quarta-feira, 2 de fevereiro de 2011

Coração amarfanhado


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A você entreguei meu coração
Me senti feliz durante tempo infindo
Apenas conhecia uma ventura inaudita
De manhã acordava e pedia em oração
Que você continuasse sorrindo
E que à minha porta não batesse a desdita

O tempo foi esvaindo lentamente
Os dias eram aspergidos de luz e emoção
As noites eram dias de lua cheia
Ambos juramos com fé solenemente
Que nossas vidas seriam um único torrão
Como que espessas camadas de geleia

Trilhamos caminhos desconhecidos
Viajamos por terras que ninguém conhecia
Os oceanos foram estreitos rios
De águas tépidas e leitos adormecidos
Onde assentamos a nossa soberania
De uma harmonia sentida sem desvarios

Quantas noites de luar nos aconchegaram
Quantas estrelas longínquas nos protegeram
Imensas legiões de anjos nos guiaram
Nossas almas felizes alegremente choraram
Longe de esquecer o que outrora prometeram
Enleadas no bálsamo daqueles que sempre amaram

O que vivemos foi intensamente belo
Eternamente merecedor de ser recordado
Mesmo que a memória se dilua
Ficam os sentimentos como selo
De um contrato feito e herdado
Que perdurará para além da meia-lua

Estranhos sentimentos agora me assolam
No finar de uma vida que foi só nossa
Parece que tudo não passou de um sonho inventado
Sinto a falta das tuas mãos que consolam
Verto lágrimas salgadas que fazem mossa
A um coração que ficou amarfanhado