quinta-feira, 19 de maio de 2011

Chovendo


******************************************

De pés descalços seguia pelo caminho
O frio penetrava-me intensamente
Uma chuva miudinha escorria pela face
A camisa ensopada até ao colarinho
Enregelava meu corpo incessantemente
Sentia-me mais molhado que uma alface

Olhei para o céu e comecei a pensar
Vou andar mais depressa, vou correr
Talvez consiga chegar a um abrigo
E então poderei finalmente descansar
Aliviar um pouco este meu sofrer
Pois penso não merecer tal castigo

Na precipitação da marcha acelerada
Escorrego e caio desamparadamente
As palmas das mãos rasparam na areia
Vi que uma delas estava dilacerada
Gotas de sangue brotaram repetidamente
Tinha que procurar uma panaceia

O frio passou como por encanto
A dor era agora o esgar do meu sentir
Soergui-me imerso em mil pensamentos
Estava triste e soltei um leve pranto
Confesso a fraqueza, não sei mentir
Sou um homem de sentimentos

Retomei a caminhada, agora sem tino
Não sabia para onde ia ou o que queria
Vislumbrei um vulto ao longe e aguardei
Já não sabia o que fazer, parecia um cretino
Esperei curioso para ver quem seria
E na borda da passagem me sentei

Um homem de bastante idade e mal vestido
Fitou-me longamente com alguma compaixão
Amigo está ferido? Perguntou delicadamente
Sim, respondi meio atordoado e sem sentido
Ajudou-me a levantar e deu-me a mão
Pensei para comigo: é um anjo certamente