sexta-feira, 24 de dezembro de 2010

Aos sempre amáveis visitantes desejo um excelente Natal e Festas Felizes, acompanhadas de um magnífico Ano Novo. Espero regressar brevemente ao convívio de todos. Eduardo Santos

terça-feira, 27 de julho de 2010

Primeira vez


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Há uma primeira vez para tudo
O acto de nascer é único e introdutório
O ritmo é marcado numa vida curta ou longa
De sucessivos momentos de um silêncio mudo
De alegres gargalhadas em tom aleatório
Que escondem uma fase que se prolonga

Desde o nascimento ao finamento
Homem ou mulher sente um destino traçado
Abraça o que aparece, sem contestar o final
Esquece inadvertidamente que a vida é lamento
De alguém que se sente mal-amado
E que não encontra da felicidade o sinal

Desponta uma primeira vez para o conhecimento
Bem cedo distingue o bom do que não presta
O agradável doce do amargo entediante
O carinho maternal de cada momento
A serenidade como uma retemperadora aresta
O sorriso maravilhoso a uma festinha esfusiante

A companhia dos amigos de infância
Vai tomando forma na escola, nas brincadeiras
Enraíza novos valores, outros conhecimentos
A amizade e o amor adquirem outra fragrância
O querer próprio revela-se de outras maneiras
Um ser orgulhoso e ávido de descobrimentos

A pujança da vida abre novos horizontes
Uma força sem limites que tudo pode e abrange
O mundo é pequeno para um ego enorme
O verbo amar conjuga-se aos montes
Quantas vezes sem a razão que o tange
Tal como se fosse uma inaudita crise de fome

Mal nos apercebemos há uma renovada primeira vez
Na qual o que somos e sentimos se desvanece
Constatamos a ausência de uma vontade independente
Continuamos a querer tudo, agora de uma só vez
E acabamos por aceitar o que a vida nos oferece
Na esperança tardia de encontrar nova alma ardente

quarta-feira, 2 de junho de 2010

Esperança


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Aqui estou batendo à tua porta
Posso entrar e conversar um pouco?
Sinto-me só, triste, acabrunhado
A esperança já não mora em minha casa
Vim a correr pensando encontrá-la na tua
Será que ela está contigo?
Fico muito feliz se a albergaste
Ah está, mas que bom sabê-lo!
Vai dizer-lhe que quero vê-la
Voltar a encontrar a luz do caminho
Receber um pouco do seu porvir
Tenho andado a vaguear sem destino
Sinto um nó no coração quando olho para o Além
Mas eu quero continuar a tê-la comigo
Já lhe disseste e ela não vem?
Não me deixes desiludido
Por amor de Deus te peço
Insiste com ela para que venha
Prometo tratá-la sempre com desvelo
Dar-lhe o lugar que ela merece
Dizes-me que ela está muito ocupada?
Que tem de viajar a casa de muitos outros?
Diz-lhe que eu lhe peço perdão
A partir de agora não a quero só para mim
Eu sei que ela não é só minha
De bom grado a deixarei partir sempre que queira
Já entendi que todos precisam dela
Que terei de a partilhar com milhões de seres
Se assim não for, que será deles
Terão que viver para sempre na angústia
Que eu agora sinto e não desejo
Só a quero sentir por perto
E poder gritar aos quatro ventos
Que tenho esperança numa vida melhor

sexta-feira, 7 de maio de 2010

Uma lágrima


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Caminhava vagarosamente pelo carreiro
Absorvido em pensamentos sem presente
Calcorreava a calçada de pedra desgastada
Eram os pés que me impeliam por inteiro
O meu ser estava completamente ausente
Sem saber a razão ou o porquê da caminhada

Nada ouvia e o que via era apenas horizonte
O que me rodeava de nada interessava
De repente fui sacudido por um estrondo
Uma pedra rolara pela encosta do monte
Tombou no caminho por onde passava
Tropecei abruptamente e caí redondo

Ao sentir a dor, rolou uma lágrima pela face
Caiu no chão e continuou rebolando
Desceu o declive e submergiu na ribeira
Só então retornei à realidade, como quem nasce
E recordei o que estava antes pensando
Era em ti, mulher que nunca foste companheira

Aprendi muito cedo a soletrar o verbo amar
Usei-o durante a vida para exprimir emoções
Agora substitui-o por palavras de novas menções
Mas não as quero revelar, antes prefiro o doce penar
De uma alma que sofre vis e constantes tentações
Preferindo fazer das lágrimas um mar de lamentações

Mulher que outrora amei, que amo ou amarei
Só posso dizer-te que as palavras, mesmo sendo belas
Não chegam para descrever sentimentos íntimos
Quando duas pessoas ousam fazer do amor Rei
Devem abrir seu coração como amplas janelas
Mas vedar aos sentidos o caminho para outros destinos

Por amor nascemos, pela dor morremos
Pelo meio está uma vida que pode ser intensa
Aqueles que albergam o amor sentem a felicidade
Mesmo que amar signifique sofrer, é de somemos
A alegria de dar e também receber é imensa
Nada impede o solidificar de um amor, nem a saudade

quinta-feira, 15 de abril de 2010

Liberdade


Foto: Ricardo Costa
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Liberdade, uma palavra tão abrangente
Tantas vezes utilizada para descrever direitos
Nomeadamente políticos, outros só mero acaso
A liberdade dos cidadãos é fictícia, fica pela mente
Porque os políticos têm seus próprios conceitos
Servem-se dela, mas cultivam-na em simples vaso

A liberdade política não passa de metáfora
É com ela que somos perdidamente enganados
Tecem-lhe loas infinitas quando tal convém
Mas estrangulam-na sofregamente vida fora
Perante uma população de infelizes condenados
Nesta vida e quem sabe, também no Além

Liberdade para mim é algo de belo, mas também pessoal
Ela termina no colectivo quando começa a dos demais
É o limite que considero minimamente aceitável
A todos os outros exijo um tratamento idêntico e natural
Porque sendo diferentes, não deixamos de ser iguais
E sem este princípio a liberdade não é prestável

Mas tenho uma liberdade de que sou senhor absoluto
Foi um dom que Deus me concedeu gratuitamente
A liberdade de consciência, ah como eu a prezo
É por ela e com ela que eu faço o caminho da vida e luto
Mesmo quando outros consideram ingenuamente
Que estes valores apenas merecem desprezo

Insensatos aqueles que assim pensam
Se não me sentisse mais livre que uma ave
Como poderia descrever um valor de liberdade
Dizer o que sinto e que outros condensam
Sem saberem o porquê de tamanho entrave
Quando o segredo está somente na verdade

Feliz de quem vive com liberdade de consciência
É sinónimo de poder individual e universal
Não há bala que extermine força tão intrínseca
Podem-nos tirar a vida ou levar para à demência
Mas jamais impedirão que a alma seja o sal
De uma vida com sentido, mesmo que não física

quarta-feira, 31 de março de 2010

Pensamento


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A imaginação é fruto do meu pensamento
É através dela que viajo para longínquas paragens
Que vejo o impenetrável mundo escondido
Que amo o que não tenho, mas que mais acalento
Com ela divago longamente na procura de miragens
Sem ela sinto-me frustrado e sem qualquer sentido

É tão bom pensar que ainda posso ser feliz
Mesmo quando a razão me incute o contrário
Consigo lutar contra ela e sair sempre vencedor
Porque a fantasia ultrapassa quem a contradiz
Permite-me voar com as asas do imaginário
Por isso jamais me sentirei perdedor

Meu corpo parece inerte preso por amarras invisíveis
Algum dia terei que lhe dizer que não as quero
Mas porque hei-de preocupar-me com isso?
Se apenas me podem prender as coisas sensíveis
Tudo o resto é inútil, coisa que não tolero
Mas acaso poderei viver só pensando nisso?

Sou mais um semelhante a tantos outros mortais
Deus ofertou-me o ser e um espaço para pousar
Concedeu-me os meios para sorver em pleno a vida
E conviver fraternalmente com os demais
Deu-me toda a natureza para amar e admirar
Um coração grande para acolher gente sentida

Como é belo, fértil e condescendente o reino da ilusão
Que nos permite esconder as amarguras do dia-a-dia
Permanecer em doce e prolongada letargia
Amar ou odiar ferozmente tudo aquilo que é emoção
Mesmo que seja preciso palmilhar por uma nova via
Pode ser uma realidade diferente ou apenas utopia

Sei que estou aqui, mas o pensamento já fugiu
Deixou-me ficar com um pesadelo que não suporto
Onde vou eu agora encontrar um cúmplice amigo
Que me ajude na procura da felicidade que sumiu
Será ilusão o meu desejo de chegar a bom porto?
Quem aceita o desafio e vem procurá-la comigo?

sábado, 20 de março de 2010

Amor perene


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Amor, paixão e dor não rimam
Mas com estes três sentimentos
Podemos fazer inúmeros poemas
Que a qualquer mulher mimam
E permitem recordar tantos momentos
De uma liberdade sem algemas

Por amor se vive e morre todos os dias
Com paixão intensa se moldam dois seres
Por amor se exulta perdidamente
Há tantos que o procuram a horas tardias
Esquecendo o raiar de novos porvires
Fruto maduro para perdurar a semente

O povo diz que amor com amor se paga
Provérbio que tem tanto de certo como nocivo
O verdadeiro amor nunca pede retribuição
O amor é entrega íntima e total sem praga
É algo de belo e extremamente intuitivo
Que nasce no pensamento a caminho do coração

Amor é laço forte entre homem e mulher
Pode ser também nó escorregadio
Quando a dor penetra de forma continuada
Seja pela ausência ou vontade do querer
O amor empalidece e fica por um fio
Pouco passa a valer, ou mesmo nada

Amor, eu podia fazer-te uma serenata
Mesmo sem saber música ou canto
Dedilhando suavemente teu corpo
Afagando docemente cada aresta
Navegando pelas ondas com que me encanto
E com a certeza de chegar a bom porto

Se um poeta é feliz a cantar o amor
Mais afortunado é o homem que o tem
Eu já vivi amores passados e presentes
Quero conservar este sentimento maior
Sorver das doces musas sem desdém
Acolher seu amor como devoro sementes

quinta-feira, 25 de fevereiro de 2010

Fiel amigo


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Levantei-me muito cedo, ainda mal clareava
A manhã cinzenta lembrou-me dias de outrora
Desci lentamente as escadas de pedra talhada
Olhei em volta para me certificar onde estava
Senti odores intensos a frutos de amora
Tive logo a certeza do lugar, na casa da Tapada

Viajei ontem e cheguei com o negrume da noite
Deixei a casa da grande cidade para vir descansar
Trouxe comigo o fiel amigo de longa data
Um cão que me obedece sem sentir o açoite
Um dia encontrei-o e logo o acolhi sem pensar
Tiritava de frio, estava enroscado e ferido numa pata

Senti compaixão por aquele ser que grunhia baixinho
Esfomeado, sujo e possivelmente abandonado
Tratei da ferida o melhor que podia e sabia
Mas não tinha de comer para o cachorrinho
Levava um pão com bifana que havia comprado
Este caiu, o animal logo o comeu. Como ele se lambia!

Olhei-o surpreso e deveras comovido
Logo ali o baptizei sem pestanejar, seria o Bifanas
É por esse nome que responde ao meu chamar
Agora e já após tanto tempo volvido
Ainda sorrio quando recordo aquelas semanas
Em que o cãozinho me vinha acordar

Hoje despertei com o doce chilrear da passarada
Caminhei pela encosta verdejante das oliveiras
Terreno sinuoso, mas amanhado com suor
Sigo a íngreme descida de forma apressada
Quase perco o equilíbrio nas ladeiras
Mas continuo a andar sem temor

A brisa da manhã ruboresce-me a face
Tal como o afagar de uma mão de mulher
Apesar da idade repleta de primaveras
Apresso o passo, sinto-me fresco como uma alface
Os ares puros do monte espicaçaram o meu querer
Quase sem dar por isso estou junto das azinheiras

De longe chegam-me os ecos de um latido
É o Bifanas que acordou e sente-se sozinho
Do fundo do vale fixo os contornos da casa
Chamo por ele bem alto e apuro o ouvido
O silêncio é total, eu espero um bocadinho
De nada valeu a espera, por isso dei à asa

Depois de ter percorrido tão longo caminho
Sentei-me na borda de uma pedra sem idade
Feliz e cansado da caminhada imprimida
A natureza fazia-me sentir como um anjinho
Já havia esquecido o bulício da cidade
Quando o Bifanas chegou para pedir comida

sexta-feira, 5 de fevereiro de 2010

Ser criança



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Eu quero voltar a ser criança
Correr por montes e vales infindáveis
Seguir longas estradas ou caminhos estreitos
Desejo preservar o prazer da lembrança

Daquela infância com objectivos insondáveis
Quando eu não sabia que a vida era para os eleitos

Tempos idos vividos com necessidade
Mal vestido e de pé descalço
Era um garoto como os demais
Pisava a terra e sentia-lhe a humidade
Mas não tinha ninguém no meu encalço
Era livre, mais ainda que os pardais

Amigos de brincadeira eram tantos
Todos queriam o que mais divertia
A bola de trapos era o jogo mais apetecido
No lançamento do pião fazia pontos altos
Com as raparigas apreciava a companhia
Vibrava no esconde-esconde ao desconhecido

A macaca era outra jogatina
Que entretinha qualquer criança
A destreza dos pulinhos ao pé-coxinho
De casa para casa era a nossa sina
O equilíbrio era o fiel da balança
Para ganhar tinha que ser moidinho

Como eu gostava de ir para a ribeira
Percorrer as suas margens escorregadias
Entrar naquela água límpida e chapinhar
Procurar nos esconderijos da beira
Os pequenos peixes e até enguias
Mas raramente algum conseguia apanhar

Que saudades daquela pequena aldeia
Humilde lugar que me viu nascer
Dia e noite percorri carreiros conhecidos
Vivi a efervescência e dias de calmaria
De manhã ia à escola para descobrir o saber
Hoje só sei o caminho dos passos perdidos

quinta-feira, 21 de janeiro de 2010

Saudade


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O amor deixa saudades ao fenecer
Mas continua a existir, mesmo que passado
É algo que subsiste para além do tempo
Quando ele é grande faz parte do verbo ser
A chama poderá extinguir-se, mas não fica apagado
Permanecerá em letargia a todo o momento

Sendo amor verdadeiro será sempre sublime
Não haverá machado que lhe corte o sentido
Mas se tal acontecer sem razão aparente
Em vez de sangue cairão lágrimas de quem o oprime
Para o esquecimento ele não aceita ser remetido
Não o podem cercear da nossa mente

Ainda era criança quando acolhi teu amor
Fomos crescendo em idade e ardor
Lembro as nossas fugas para o monte
Procurando a solidão sem temor
Onde os desejos crepitavam de calor
Fogo intenso que ardeu lentamente

Outrora vivemos como um único ser
De mãos dadas entrelaçamos sentimentos
Com os corações unidos selamos a paixão
Foi uma vida de carinhos, de intenso viver
Naqueles verdes anos procuramos alentos
Foram eternos momentos que jamais voltarão

Longe vão os anos em que por ti chorei
Perdi-lhes a conta e com ela o desejo
Não quero tornar a sofrer desse jeito
Alguém me privou daquilo que tanto amei
Mas meu coração ainda alberga um ensejo
De voltar a amar com todo o respeito

Oh saudade que tanto me atormentas
Vai-te embora antes que eu enlouqueça
E perca a razão do meu existir
Deixa-me passar o cabo das tormentas
Lutar para impedir que a dor permaneça
E ter a esperança em novo porvir

quarta-feira, 6 de janeiro de 2010

Onde está o Menino?



Onde está o Deus Menino?
Aquele que nasceu há dois mil anos
O Salvador que veio para nos redimir
Será Ele assim tão pequenino?
Porque está embrulhado em panos?
Assim o quis na humildade do porvir

Seus pais viajaram muitos dias
De Nazaré até uma cidade desconhecida
Para lá fazer o recenseamento
Na cidade não havia estadias
Nem gente amiga ou conhecida
Para lhes dar alojamento

Os Reis quiseram adorá-lo
Encetaram viagem caminho além
Desconhecendo onde havia nascido
Em modesta cabana foram encontrá-lo
Numa cidade chamada Belém
Onde uma estrela os havia conduzido

Após terem conhecido o Messias
Com seus presentes o contemplaram
De joelhos se prostraram e O adoraram
Lembrando o que diziam as profecias
Ficaram gratos pela mercê e partiram
Para os seus reinos que amavam

Maria filha de Davi foi escolhida pelos Céus
Para dar à luz um filho primogénito
Do seu ventre nasceu o Redentor
Fruto do amor de um só Deus
Só de tentar compreender causa frémito
Apenas possível por ser um infinito amor

Menino Deus que te ofertaste à humanidade
Acolhes os simples e puros de coração
Mas abominas a falta de amor e verdade
Concede um pouco da Tua bondade
Àqueles que choram por falta de pão
E que dos homens só recebem maldade