terça-feira, 27 de julho de 2010

Primeira vez


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Há uma primeira vez para tudo
O acto de nascer é único e introdutório
O ritmo é marcado numa vida curta ou longa
De sucessivos momentos de um silêncio mudo
De alegres gargalhadas em tom aleatório
Que escondem uma fase que se prolonga

Desde o nascimento ao finamento
Homem ou mulher sente um destino traçado
Abraça o que aparece, sem contestar o final
Esquece inadvertidamente que a vida é lamento
De alguém que se sente mal-amado
E que não encontra da felicidade o sinal

Desponta uma primeira vez para o conhecimento
Bem cedo distingue o bom do que não presta
O agradável doce do amargo entediante
O carinho maternal de cada momento
A serenidade como uma retemperadora aresta
O sorriso maravilhoso a uma festinha esfusiante

A companhia dos amigos de infância
Vai tomando forma na escola, nas brincadeiras
Enraíza novos valores, outros conhecimentos
A amizade e o amor adquirem outra fragrância
O querer próprio revela-se de outras maneiras
Um ser orgulhoso e ávido de descobrimentos

A pujança da vida abre novos horizontes
Uma força sem limites que tudo pode e abrange
O mundo é pequeno para um ego enorme
O verbo amar conjuga-se aos montes
Quantas vezes sem a razão que o tange
Tal como se fosse uma inaudita crise de fome

Mal nos apercebemos há uma renovada primeira vez
Na qual o que somos e sentimos se desvanece
Constatamos a ausência de uma vontade independente
Continuamos a querer tudo, agora de uma só vez
E acabamos por aceitar o que a vida nos oferece
Na esperança tardia de encontrar nova alma ardente