segunda-feira, 8 de dezembro de 2008

Florbela Espanca

Ser poeta

Ser poeta é ser mais alto, é ser maior

Do que os homens! Morder como quem beija!
É ser mendigo e dar como quem seja
Rei do Reino de Aquém e de Além Dor!

É ter de mil desejos o esplendor
E não saber sequer que se deseja!
É ter cá dentro um astro que flameja,
É ter garras e asas de condor!

É ter fome, é ter sede de Infinito!
Por elmo, as manhãs de oiro e de cetim...
É condensar o mundo num só grito!

E é amar-te, assim, perdidamente...
É seres alma, e sangue, e vida em mim
E dizê-lo cantando a toda a gente!

Florbela Espanca, «Charneca em Flor», em «Poesia Completa»

Nota: Embora habitualmente utilize este espaço apenas para a emissão de poesias de minha autoria, abri uma excepção para colaborar na homenagem à grande poetisa portuguesa Florbela Espanca, na blogagem colectiva promovida pela Flor, interlúdioenflor. Este é um dos poemas de Florbela Espanca que mais admiro e que dedico a todos que gostam de poesia.

domingo, 7 de dezembro de 2008

Imaculada











Maria, mulher escolhida por Deus
De graças infinitas cumulada
Fiat selaram lábios teus
Nós te veneramos imaculada
*****
Nasceste humilde e ornada de virtude
Recatada foi tua vida terrena
Teu coração ama a verdade
Na comunhão com Deus és plena
*****

És virgem e serás sempre
A graça do Senhor assim o permitiu
Cristo escolheu o teu ventre
Viveu, morreu e partiu
*****

Acolheste a Sua missão
Da tua vida fizeste oferta
Com Ele pactuaste uma união
Salvar a humanidade da morte certa
*****

Com Ele pregaste, sofreste e amaste
De forma silenciosa e discreta
Fazei tudo o que Ele disser, aconselhas-te
Foi a forma de traçar a meta
*****

Imaculada, apesar de Mãe do Filho
Pelo poder do amor divino
Ampara-nos na procura do nosso trilho
Ao encontro do Deus uno e trino
Com João Paulo II: Totus Tuus Maria
Dia 8 de Dezembro comemoramos o dia de Nossa Senhora da Conceição. Aqui fica uma homegem em forma de poema. ES

sábado, 15 de novembro de 2008

Brisa










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Brisa que se sente e não vê
Corrente suave que nos afaga
Qual livro quando se lê
Mesmo sabendo que é uma saga

Ar provindo de sul ou norte
Portador de novas desconhecidas
Algumas desejando-nos sorte
Outras vão deixar-nos feridas

Ansiamos pelo teu toque no verão
Debaixo de um sol escaldante
Nossos sentidos acalmar-se-ão
Como uma vaga suavizante

Teu odor é desconhecido
Tua presença sempre sentida
Mas se estiveres adormecido
Minha alma está sem vida

Quando te encontras em acalmia
És como mulher ardente
Mas se sopras ventania
Levas tudo e todos à frente

Estando bonançoso és afável
Fazes sonhar mesmo de dia
Em mar alteroso és intratável
Crias tsunamis em cada dia

Teu criador fez-te insensível
Usa-te como lhe aprouver
Aceita que sejas incompreensível
Como capricho de mulher

Eu quero recordar-te para sempre
Como brisa fustigando as aves
Como o som de água corrente
Em tom musical só de graves

segunda-feira, 27 de outubro de 2008

MULHER




Mulher, simplesmente mulher
Deus te criou diferente do homem
Ele te ama na profundeza do seu ser
Tu o completas e amas também
Luís de Camões te cantou
Teu amor descreveu e louvou

Mulher que do nada foste ser
No teu regaço aconchegaste o amor
Choras à noite e ao amanhecer
Ris sem qualquer temor
Abraças a vida que recebeste
Irradias raios de luz celeste

Mulher de beleza imortal
Com alma que resplandece em teu corpo
Teu ser dá vidas à vida total
Embalas um nada morto
Sofres amargamente do desconforto
De uma vida tornada deserto

Mulher que de feminino tens tudo
Sentimentos mil albergas
Lutas com espadas de veludo
Não feres, mas tapas chagas
Abres com ternura corações alheios
Desabrochas todos os anseios

Mulher de odores e fragrâncias incolores
Perfumas as pedras do caminho
Soltas brados de dores
Quando teu pé pisa cada espinho
Espinho de uma rosa que murchou
E de uma vida que se finou

Mulher que amas sem pensar
Acolhes sem nada pedir
Abraças teus filhos a chorar
Morres ao vê-los partir
Recebes rosas em preito de homenagem
Recolhes sempre a sua mensagem

Mulher que do amor fazes pão
Com água matas a sede alheia
Mulher que nunca aceitas um não
De quem teu coração incendeia
Da luta do porvir és semente
Serás mulher, mas mulher para sempre

terça-feira, 19 de fevereiro de 2008

Sofrer e amar


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Poesia, afinal o que será?
Responde-me se és capaz
Eu não sei explicar o significado
Sinto-a, vivo-a, mas desconheço onde está
Acaso será verdadeira ou fugaz?
É real, pois afirmar o contrário seria pecado
Através dela transmito-te o que penso
Dirá que sofro profundamente
Sim, este pobre coração angustia-se
Range de dor em ver-me submerso
Abate-se, esbugalha-se e fica inerte
Mas ao receber o teu sorriso, esvai-se
Dirá ainda pausadamente
Choro por te ver assim
Esse sorriso é vago e sem brilho
A tua indecisão revela ausência de mim
Até quando minha flor de lis terei um caminho sem trilho?
Continuo só e triste, mas confio em Deus e em ti serenamente
Poesia encerra alegria e tristezas
Quantas vezes verdades duras e amargas
Exprime a dor, amor, esperança e desejo
De tudo aqui encontras, assim prevejo
Repara no meu coração cheio de promessas
Reflecte, vê e dá-me tuas venturas
Poesia é imaginar-te qual borboleta voando
Pousando aqui e além, mas continuando a esvoaçar
Detém-te e escuta os lamentos meus
Este coração sente-se alvoraçar
Vem e dá-lhe o teu amor infindo
Então voaremos os dois para junto de Deus

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Esta poesia fui buscá-la ao meu baú de recordações. Floresceu no ano de 1965

segunda-feira, 14 de janeiro de 2008

Azul infinito





No azul infinito da esperança
Vagueiam anseios desmedidos
Na luta diária da sobrevivência
Gastamos os nossos sentidos
**
Nuvens escuras escondem tristeza
De azul colorimos os desejos
Trilhamos caminhos de incertezas
Sonhamos amores benfazejos
**
Vida insípida do dia dia
É a pedra do caminho
Numa etapa mais tardia
Colheremos o nosso destino
**
Um corpo sem alma teremos
Um dia sem vida vai nascer
Nas asas de anjos voaremos
No poente ao entardecer
**
Corpo não levaremos
O espírito substitui o ser
Que fardo carregaremos?
Será melhor não o saber
**
Para além do infinito
Está a estação de permanência
Será um lugar bonito?
Ou princípio da nossa demência?
**
Terra é mera passagem
Nascemos do nada feito ser
A vida é miragem
Só nós não queremos ver

sábado, 12 de janeiro de 2008

Outono da Vida










No Outono de muitas cores
Predomina o amarelo sem vida
Tal como as folhas incolores
Após forte ventania sentida

Mas a porta está aberta
Em frente à estrada da vida
Segue-a como coisa certa
Terá que ser percorrida


No seu termo encontrarás o Inverno
Não pares para lamuriar
Tira o teu coração do inferno
Corre, ainda tens uma vida para dar

Procura pela primavera
Olvida o Outono da vida
O prazer é uma quimera
A dor não é indefinida

Enquanto criança choras-te
Quando jovem vives-te em euforia
Em adulto te tornaste
Sem saberes que a vida morria

A vida é uma passagem
A Terra estação em permanência
Cá lutas por uma miragem
Como quem sofre de demência

Vai pelos campos fora
Colhe as flores belas da natureza
Ouve com atenção a ave canora
Ela louva uma realeza

Será o Deus do céu e da terra
O objecto do seu louvor
Sobe ao alto da serra
Entrega-te sem medo e com amor

Não pediste para nascer
Mas o amor te deu vida
A próxima etapa será morrer
Aceita-o de forma soerguida

Vida é um dom de Deus
Tem princípio e também meio
Será o fim dos olhos teus
Mas o nascer do teu anseio

terça-feira, 8 de janeiro de 2008

Bela Aurora









Bela aurora que antecedes o amanhecer
Trazes contigo sons estridentes de criança
São gritos de alguém a nascer
São fruto de uma aliança

Aurora é nome astral
Planeta que vai marcar o teu futuro
És corpo de anjo material
És filha de homem maduro

Suave foi a noite que te acolheu
Radioso é o dia que te recebe
Teu pai quisera ser eu
Tua mãe feliz te concebe

Vida gerou mais vida
Eis um novo ser da humanidade
Pássaros cantem de forma sentida
Que vossas árias a embalem de felicidade

Flores irradiem vossas belas cores
Sol aquece suavemente a menina
Vento sopra abundantes odores
Inebria com perfume cada esquina

Agora que despertas para a vida
Eu aguardo a chegada da mãe morte
Já vivi uma vida vencida
Mas cuidei de escolher o norte

Tu és esperança da Humanidade
Eu sou fim do elo de ligação
Tu vais precisar da minha humildade
Eu da tua lembrança no coração

Aurora de beleza serena
Do amor humano foste gerada
Deus concedeu-te liberdade plena
Serás sempre bem amada






domingo, 6 de janeiro de 2008

Ano Novo, Vida Nova?


O ano findou, dizemos que é velho
O novo chegou, saudamos com esperança
Quantos pensamentos eu tenho
Alguns tão inocentes como de uma criança

O ano é novo no calendário
Traz consigo o que é bom e o que não presta
O nosso rodopio diário
Será apenas o que nos resta?

Talvez sim e talvez não
Dependerá de inúmeras coisas
De escolheres um bom caminho ou não
Mas também do lugar onde poisas

Caminho que tem tantos sentidos
Vidas, via ou metamorfose
Setas apontadas aos ouvidos
Daqueles que apenas conhecem a pose

Pose dos que querem possuir
Que não olham a meios ou cuidados
Que não vivem o sentir
Mesmo dos mais desgraçados

Ano Novo que será de coisas velhas
De tantas que até desconhecíamos
Mas vamos à procura de novas
E acreditar que ainda sabíamos

O caminho está escolhido
Cada qual percorrerá o seu
O meu já tem sentido
Mas pode não ser igual ao teu

Anseio por uma vida com justiça
Paz, amor e fraternidade
Uma luta que está numa liça
Mesmo contra a minha vontade

Olha à tua volta e diz-me o que sentes
Pessoas que riem quando estão felizes
Mas que choram e cerram os dentes
Nos momentos de deslizes

Não peças um desejo para o Novo Ano
Tenta apenas lutar por um objectivo
Transforma o teu dia a dia insano
Em algo forte e que sirva de motivo

Motivo que faça a diferença
Para ti, para mim, para o Mundo
Entranha tal como o amor de criança
Quando ama sua mãe lá bem no fundo

Vida nova será certamente
Para muitos que agora nascem
Será velha e finita igualmente
Para quem espera que os dias passem

terça-feira, 1 de janeiro de 2008

Avé Maria


Maria mãe de Jesus
Mãe cheia de graça
Maria que o amor conduz
Com o pão e o vinho da taça
Pão que é o corpo
Vinho que é o sangue
Mistério ainda infinito
De redenção e amor
Começa com um SIM
Maria o pronunciou
Seu coração O aceitou
Seu ser o concebeu
Nas palhinhas o pousou
Os animais o bafejaram
Os Reis o adoraram
Os poderosos o odiaram
Os humildes o acolheram
Maria também nossa mãe
Que nos levas a vosso filho
Que sofreste por Ele e com Ele
Recebe as nossas súplicas
Daqueles que não têm pão
Roupa para se agasalhar
Um tecto para guarida
Daqueles que não têm saúde
E carência de instrução
Dos que clamam por justiça
E dos sedentos de amor
Maria das bodas de Caná
Que na falta do vinho assim disseste:
"Fazei o que Ele vos disser"
Atendei a nossa prece
Olhai e acolhei em vosso coração
Tantos pobres e humildes deste mundo
Espaço de vida, mas também de oração
Tempo de um ser concedido
Vida de agruras, desditas e alegrias
Local de passagem efémero
Com tempo previamente marcado
No nascer, viver e fenecer
Que o exemplo de Jesus
E o vosso SIM a Ele
Sejam no caminho da cruz
Nosso doce embalar n'Ele