quarta-feira, 25 de fevereiro de 2009

Rosa vermelha



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Rosa vermelha de cor aveludada

Nascida entre tojos na alta montanha

O sol tisnou tuas pétalas

Teu odor suave tomou meus sentidos

Impregnou toda a minha alma

Fez-me transportar a jardins desconhecidos

Vermelho ardente que acaricio

Como mulher bela em pleno estio

Mostras o botão que vai desabrochar

Abres teu coração ao clarear

Expeles o perfume dentro de teu ser

Espreguiças teu caule a verdejar

Sabes que espero esse momento

Deixas-me afagar terna e suavemente

Teu ventre ciosamente recolhido

Tuas pétalas abrem uma a uma

Como jamais eu havia sentido

Estremeço ainda meio adormecido

Flor que jamais serás de jardim

Após te abrires completamente

Darás tudo que tens em ti

Ficarás para sempre desnudada

De coração eternamente aberto

Mesmo que não tenhas mais nada

Vou sentir tua juventude perdida

Depois de tuas pétalas caírem

Ficarás mais amadurecida

Mais carente de que outrora

Então recolher-te-ei em minhas mãos

E tudo o que te resta agora

sábado, 14 de fevereiro de 2009

Tempo






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Tempo que és sucessão eterna de instantes
Palavra na qual tudo cabe e em tudo se dilui
Preciosismo fugaz, mas nunca efémero
Que me levas a lutas permanentes
Por aquilo que meu ser não possui
Onde não conta a qualidade ou número

Tempo que existes impondo tua presença
Sem olhar a queixumes ou sorrisos
Que ora bafejas em hora de sorte
Ou matas quem não têm crença
Tua carruagem me leva a mil paraísos
Por caminhos de vida ou de morte

Tempo de hoje e de outrora
Que viste o meu nascer
Conduziste minha vida fora
Agora controlas a minha hora
Esperas meu tempo de fenecer
Mesmo assim não vais embora

Tempo que somas horas e minutos
Que não dás contas a ninguém
És mau para uma mulher bonita
Carrasco amável para muitos
Que não sentem o teu desdém
Pensando ter vida infinita

Tempo que tudo deves a alguém
Mas que guardas ciosamente
Tudo quanto te pertence ou não
Tempo que esbanjas no harém
Belezas que emergiram precocemente
Alimentadas com prazer e sem pão

Tempo maldito que me confundistes
Num longínquo dia de sol radioso
Quando embarquei naquele navio
E acompanhei colegas tristes
Envergando uniforme verde e sedoso
Em demanda pelo lugar do extravio

Tempo que tudo fizeste para me roubar
Vida que ousaste condicionar
Impediste meu ideal de sonhar
Contra ti lutei até sangrar
Mesmo debilitado em tremendo esgar
Consegui fugir e o caminho encontrar

Hoje mesmo só sinto-me feliz
Por não saber o tempo que tenho
Faça sol, chuva ou sopre um vento medonho
Aqui me encontrarás como um petiz
Cantarolando que o amor é um sonho
Mas sem medo de seres enfadonho


Participando em Tertulias Virtuais

sábado, 7 de fevereiro de 2009

Amor não esperes








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Amor, se me amas, não esperes
Parti sem nada e sem destino
Na praia verás outros seres
Não eu, que cruel desatino

Amei-te uma vida inteira
Não sabia porque te amava
Agora que fiz tamanha asneira
Só me resta chorar, porque a água lava

Outrora só lamentava
Não poder te amar mais
Não compreendi quando escutava
Teus profundos e infinitos ais

Amor não chores, eu não mereço
Guarda minhas juras antigas
Esconde aquele meu lenço
Que recorda as nossas cantigas

Em segredo eu embarquei
Não podia dizer a ninguém
Tive medo e receei
Que quisesses vir também

Quero recordar-te sentada
Teu olhar mirando o horizonte
Ouvir aquela brisa zangada
Que eu sentia e te batia na fronte

Porque te amava, parti
Não podia dar-te mais
Sabe Deus o que senti
Não esquecerei jamais

Guarda no coração a vida passada
Não olvidarei tamanha graça
Ficarei acorrentado na calçada
Se um dia passares na praça

Mas não me procures em tais lugares
Meu barco não atracará
Prefiro sofrer a dureza dos mares
Porque assim ninguém saberá

Se um dia sofrer forte tempestade
Não terei medo de naufragar
Sei que vou sentir saudade
Morrerei a imaginar teu rosto afagar