quarta-feira, 6 de julho de 2011

Nascer, viver, morrer


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Para traduzir com lucidez o sentido da existência

Seria correcto utilizar uma imagem coerente:

“Nascer, viver e novamente recomeçar”

Porque do acto de nascer não tenho consciência

Contudo há a essência da vida que não o desmente

Já diferente foi o caminho de um lento vivenciar

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Da meninice recordo episódios isolados

Onde persistem sentimentos de abandono

De fuga ao quotidiano de menino pobre

Onde inocentes brincadeiras foram aliadas

A uma camaradagem franca e sem retorno

Mas cuja lembrança tem um sabor nobre

***

Nos longos anos que marcam a minha vida

Há tantas histórias, amores, mentiras e verdades

Tudo isso não passa de uma amálgama de emoções

Que foi condimentada de forma sentida

Onde a ausência do antídoto contra as maldades

Abriu caminho a muitas e servis tentações

***

A vida devia ser uma festa permanente

E não é porque nós não acreditamos

Naquilo que pretendemos e queremos

Eu deixei a vida deslizar serenamente

Percorri longas avenidas ladeadas de álamos

E contornei os caminhos agrestes e ermos

***

Os anos da juventude foram belos e fogosos

Mas quantas vezes me impediram de ver

Retiveram o meu imenso desejo de escolher

Porque não conhecia outros sois radiosos

Que certamente me teriam feito aceder

Aos altares celestes de um outro saber

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Agora que a luz da vida está prestes a apagar

Penso tranquilamente em tudo que queria e não tive

Afinal era dispensável, porque consegui ser eu mesmo

Neste corpo efemeramente cedido que irei entregar

Só ficarei com a alma que sempre sobrevive

E que me levará ao encontro do Bem Supremo