sexta-feira, 25 de setembro de 2009

Por do sol









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O horizonte cingiu-se de tons dourados
Com uma réstia de sol a espraiar-se nas águas
Caminho ao longo da praia vagarosamente
Piso a areia fina com mil cuidados
Oiço a água límpida a embater nas fragas
Como pensamentos vagos na minha mente



Perscruto o por do sol no horizonte
Sinto o doce afagar das águas tépidas
Meus pés estão cansados de tanto calcorrear
Começo a sentir suores na fronte
Foi das longas e vertiginosas corridas
Para melhor sentir a brisa do mar


Por momentos deixo-me enlear
Pelo mavioso chilrear das aves nas margens
Enquanto a vegetação se verga ao poder do vento
Meus sentidos captam os ruídos do mar
Em terno e saudoso lamento pelas virgens
A quem concedeu o último momento



Olhando para trás só avisto o areal
Vazio de pessoas que chegaram ao amanhecer
Foi um dia pleno de vida a fervilhar
Movimentos contínuos de um vaivém real
Em lugar aprazível para permanecer
Mas onde agora me encontro isolado a meditar


Sentado e de olhar fixo no por do sol
É a minha posição preferida para reflectir
Penso naquelas crianças mais desvalidas
De todos os continentes e cores sem rol
Que da vida apenas tiveram o porvir
Pois continuam a ser totalmente esquecidas


Como o ser humano é ingrato com o semelhante
Todos ansiamos por maior e melhor bem-estar
Mas olvidamos aqueles que nada têm
Orgulhamo-nos de pertencer à classe pensante
E não somos capazes de soletrar
O verbo amar a favor de outrem

quarta-feira, 16 de setembro de 2009

Rosa simplesmente




Apenas e só uma rosa, és certamente
Tanto podes ser flor como nome de mulher
A dúvida só existe porque são distintas
Distintas na sua essência, efémeras eternamente
Uma posso escolher, a outra quero colher
Só preciso que tu me consintas


Olho enternecidamente tua beleza
Na cor não tens concorrente
Pálida ou viva és sempre diferente
Fazes-me recordar com saudade a realeza
Que outrora foi dona de tanta gente
E para quem hoje é indiferente


Em jovem foste um botão mimoso
O amor da natureza amenizou a tua abertura
A metamorfose deu-se tão lentamente
Qual hino belo, suave e melodioso
De uma longa e trabalhada partitura
Que eleva nossos sentidos ao maravilhoso


Tuas pétalas são macias e perfumadas
Desabrocharam na primavera passada
Não quiseste esperar pelo verão quente
Sentias tuas sementes esmagadas
Querias sorver o ar da madrugada
E ver a luz a esconder-se no poente


Tinhas pressa em ser admirada
Impaciência em ser conhecida
Desejavas abrir teu ser para a vida
Conseguis-te embriagar-me pela calada
Numa manhã jamais esquecida
Em enlace pleno de alma sentida


Teu caule é esperança de abrigo
Teu odor faz esquecer tudo em volta
Teus espinhos tornam-se grilhetas de amor
Enalteço uma rosa sim e por ela brigo
Só tu poderás calar minha revolta
Por não te possuir, mesmo lutando sem temor

sábado, 5 de setembro de 2009

Mar salgado


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Mar que enrolas e te espreguiças em voltas
Quando estás zangado és odiado e temido
Cavalgas em ondas sem qualquer piedade
Deslizas veloz em vagas revoltas
Mas só pretendes fazer soar o teu rugido
Ameaçando aqueles que partem com saudade

Eu que viajo pensativo no convés
De um qualquer barco que zarpou no tempo
Perscruto o longínquo e apenas a ti te fito
Zurzindo por me olhares de revés
E amaldiçoando o contratempo
De viajar a caminho do infinito

Mar que deverias ser de calmaria
Servir de descanso no doce baloiçar
Da longa viagem que desejo terminar
Não sei onde tal me aventuraria
Talvez seguindo o Atlântico possa alcançar
O lugar onde gostaria de ficar

Aprecio deleitosamente o teu azul ondulante
Detesto que ocupes todo o meu ângulo visual
Adoro paisagens sem fim com o verde por fundo
Tu és deveras grandioso e petulante
Enorme e com um espaço abismal
E esqueces que não és senhor do mundo

Admiro-te como dom perene da natureza
Louvo a riqueza que tens e nos concedes
Odeio-te quando tragas homens trabalhadores
Sinto temor e asco pela tua rudeza
Quando não respeitas os que deitam as redes
E com isso causas tantas dores

Oh mar que abraças todos os oceanos
Neles fundes e consolidas teu poder
Hei-de maldizer-te se não te secar
Porque salgado será o fim dos teus anos
Choro penosamente por não poder saber
Se um dia alguém te poderá amar