sábado, 23 de maio de 2009

Negrinha


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Tua tez escura sobressai
Branca nasces-te, de negro te revestiram
A natureza te metamorfoseou
Herdaste a pigmentação do pai
Por isso não te mentiram
Mas és fruto de quem te amou

Teu continente é o Mundo
Tua alma é mais branca que a neve
Teu sentir é hino profundo
A um Deus de amor Bailundo
Que em suas mãos te susteve
Salvando-te de um abismo sem fundo

Não te aceitaram pela cor
Escarneceram teus ancestrais
Mas tens todos os direitos
Porque foste gerada do amor
Querida e desejada pelos pais
Perfeita e sem quaisquer defeitos

Na escola brincas-te com os demais
Também sorrias, choravas e aprendias
Convivias com outros desiguais
Tua meninice foi cheia de ais
Suspiravas porque não sabias
Porque descriminaram teus pais

Teu percurso foi uma via estreita
Carregando a indiferença de muitos
A condescendência de alguns
Mas tal foi pequena maleita
Cera destinada a defuntos
Pois não deste importância a nenhuns

És bela entre as mulheres
Teu tisnado é deveras sedutor
Amas tudo aquilo que desejas
Teu coração é manancial de seres
Qual alcova de redentor
Onde geras tudo que almejas

quarta-feira, 13 de maio de 2009

Peregrino



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Tu que calcorreias os caminhos
Com uma meta bem definida
Não te importas dos espinhos
Que te atraiçoaram a vida

No teu saco levas os pertences
No corpo pouca roupa vestida
Longos percursos tu vences
Com uma passada à medida

Por estradas ou caminhos estreitos
São tudo vias para palmilhar
Com o sol a fazer efeitos
Ou chuva que não pára de molhar

Sempre que segues sozinho
Sobra-te tempo para pensar
Até pisas muito de mansinho
Só para a calçada não magoar

Traças-te a rota bem cedo
Sabes que a distância é enorme
Mas isso não te causa medo
Mesmo quando te dá a fome

Dia após dia continuas andando
Não contas o espaço percorrido
Mesmo sentindo teu corpo cansado
Sabes que a viagem faz sentido

Pouco dormes nas noites escuras
Acordas pelo amanhecer
Recordas docemente as alturas
Da luta do teu sobreviver

No fim de tanto caminhar
Já sonhas alegres momentos
Mas ninguém pode adivinhar
A nobreza dos teus sentimentos

Calçado já não tens
Teus pés pisam o solo duro
Ouves murmúrios e desdéns
Mas caminhas sempre seguro

Finalmente chegas ao altar
Ajoelhas e agradeces a viagem
Em silêncio fitas a Senhora a orar
Teu coração recebeu a Mensagem

É um preito de homenagem à fé dos peregrinos de Fátima. Homens e mulheres que um dia decidiram percorrer a pé, por vezes centenas de quilómetros, a distância das suas terras até à Cova da Iria, para agradecer a Nossa Senhora as graças recebidas.

domingo, 3 de maio de 2009

Amor de Mãe



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Amor que antes de o ser, já o era

Primeiro que desejado, sentido

Nasceu das profundezas do ser

Hibernou no coração de mulher

Amor maior que o universo

Sem passado nem futuro temporal

Amor que gera amor

Fruto sublime de um sentir

Desejo de um viver e morrer

União perene de dois seres

Coração e mente em sintonia

Elevação comum sem o ser

Amor com cores de arco-íris

Sensibilidade de pétala de rosa

Olfacto de perfume deleitoso

Caminho nunca antes percorrido

Vaga ondulante que recebe e dá

Entrega-se na plenitude e se espraia

Amor de alegrias e tristezas

Numa vida que não termina

O sofrimento caldeia a sede

Em turbilhões de ansiedade

Ausência não representa perca

Significa apenas saudade

Amor que dizem ser sentimento

Entrelaça quem o deseja

Aumenta o elo sagrado

Desde dois ao infinito

Qual areia do deserto

Como fogo que queima a alma

Amor que adere suavemente

Macio como algodão em rama

Leve como plumas a esvoaçar

Forte como um abraço

Daqueles que querem amar

Olhando apenas o espaço

Amor que não tem palavras

Apenas gestos, afectos e olhares

Enlevo de um ser que se absorve

Que se esquece de si próprio

Estende as mãos e diz

Anda, contigo sou feliz

É uma homenagem singela a todas as Mães do Mundo.